Fabiana Ferreira Lopes

" A vida só se da para quem se deu" Vinicius de Moraes

Textos

Ninguém Vem

Ninguém me entende.
Nem me enxerga de verdade.
Talvez sintam minha presença
como se sente o vento —
passa, mexe, mas não se agarra.

Arranham o verniz,
ouvem ecos do que digo,
mas não escutam a alma que grita
entre palavras inteiras demais
pra serem decifradas por metades.

Penso em todas as vezes que me parti,
me dobrei em origamis de aceitação,
pra caber em molduras pequenas
que me pediam silêncio,
sorriso,
performance.

E mesmo assim...
permaneço aqui.
Sozinha.
Na minha ilha de mar revolto,
olhando pro horizonte
como quem espera por um resgate.

Esperei cavaleiros.
Esperei armaduras.
Esperei coragem que não vinha.

Demorei a perceber:
ninguém vem.
Porque ninguém sabe chegar no submundo
de quem viveu mil batalhas internas.

Essa guerra é minha.
Só minha.
E carregar essa consciência nos ombros
não alivia a dor.
Só acelera o passo
rumo a algo que nem sei o nome.

Chegar ou regressar?
Não sei.
Só sei que quero encontrar
um instante onde caiba.
Onde eu caiba.
Por inteira.

Silencio-me como quem ora
sem palavras,
apenas com o coração exposto,
em busca de um colo invisível
que me diga:
“Eu te vejo.”
Fabiana Ferreira Lopes
Enviado por Fabiana Ferreira Lopes em 17/06/2025
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