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Ninguém Vem
Ninguém me entende. Nem me enxerga de verdade. Talvez sintam minha presença como se sente o vento — passa, mexe, mas não se agarra. Arranham o verniz, ouvem ecos do que digo, mas não escutam a alma que grita entre palavras inteiras demais pra serem decifradas por metades. Penso em todas as vezes que me parti, me dobrei em origamis de aceitação, pra caber em molduras pequenas que me pediam silêncio, sorriso, performance. E mesmo assim... permaneço aqui. Sozinha. Na minha ilha de mar revolto, olhando pro horizonte como quem espera por um resgate. Esperei cavaleiros. Esperei armaduras. Esperei coragem que não vinha. Demorei a perceber: ninguém vem. Porque ninguém sabe chegar no submundo de quem viveu mil batalhas internas. Essa guerra é minha. Só minha. E carregar essa consciência nos ombros não alivia a dor. Só acelera o passo rumo a algo que nem sei o nome. Chegar ou regressar? Não sei. Só sei que quero encontrar um instante onde caiba. Onde eu caiba. Por inteira. Silencio-me como quem ora sem palavras, apenas com o coração exposto, em busca de um colo invisível que me diga: “Eu te vejo.”
Fabiana Ferreira Lopes
Enviado por Fabiana Ferreira Lopes em 17/06/2025
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