Fabiana Ferreira Lopes

" A vida só se da para quem se deu" Vinicius de Moraes

Textos

Menina dos olhos de Deus


O Senhor Deus é a minha luz e a minha salvação; a quem terei medo?”
“O Senhor me livra de todo perigo não ficarei com medo de ninguém.” Sl 27:1


Como poderia esquecer aquele dia. Ele tinha começado conturbado, o que não é conturbado na vida de uma jovem de 15 anos.
Domingo, maio, tinha pouco tempo que caminhava com Ele, mas o meu amor era tão imenso tão grande, só não sabia que justo nesse dia Ele colocaria a prova tal amor.
Voltava para casa submersa em meus próprios devaneios, ora lembrando-se das palavras ditas, ora questionando minha vida, deveria ter ido à confraternização como todos os outros jovens da igreja?
Era melhor não. E assim nem percebi o automóvel encostando pertinho de mim. Ah, como é bom ter 15 anos, a inocência, não era tão tarde assim, umas dez e meia da noite talvez um pouco mais, voltava a pé, sozinha o único grupo de pessoas tinha se distanciado do meu alcance há alguns minutos, não dei importância fazia aquele caminho todos os domingos, roteiro certo e preciso. Mas naquela manhã, minha mãe insistiu: “Não vá hoje fique em casa!”
Não ir como? Eu tenho um compromisso e uma responsabilidade com a Casa do Senhor, e aquele sonho, eu não entendi muito bem, me pareceu confuso, eu logo lembraria.
A abordagem foi sutil, tanto que me aproximei o suficiente, perto demais e quando dei por mim sua voz tremula e seus olhos cheios de espantos me conduziam para dentro do veículo.
“Escuta, sou fugitivo preciso sair desse bairro e você será minha refém!”
“Quem eu? Eu refém? Não, não pode ser não comigo!” Dizia a mim mesma, foi quando vi a arma. Era real e estava acontecendo comigo.
Correr, talvez gritar, em segundos meus olhos giravam ao redor ninguém, era eu o homem, a arma e o Senhor, ainda bem que havia o Senhor.
No banco de trás eu pensava: “Então é assim que acaba minha vida? É aqui que todos os meus sonhos e promessas de Deus se perdem?”
Naquele momento me senti tão sozinha, abandonada e aquele homem e seu olhar cheio de desespero indo cada vez pra mais longe, longe da minha casa, longe da minha família, longe de onde me considerava segura, ele poderia fazer qualquer coisa contra mim a qualquer momento, mas havia alguém que não estava longe de mim e foi nesse instante que tudo mudou.
Imersa em mim mesma, olhei para o céu e constatei uma linda lua que brilhava sem parar, ali comecei a falar com Deus em pensamento, senti sua Forte presença invadindo a minha vida.
O homem continuava a guiar cada vez mais distante, via ruas vazias, pouca movimentação o caminho, ele estava indo para Serra, como eu voltaria, apertava contra o peito a bolsa, mal sabia que naquela bolsa estaria à forma que Jesus me libertaria daquela situação.
A situação era aterrorizadora, eu só tinha 15 anos, entretanto o Senhor me invadiu com um imenso amor, amor pela vida daquele homem, sim daquele sujeito desconhecido, que havia me seqüestrado enquanto retornava da igreja para o lar. Meu lar, minha mãe deve estar tão preocupada, que horas seriam eu não sabia dizer então abri a boca e falei do único que poderia transformar alguém: “Jesus”!
“Fala aí, o que uma mocinha como você faz na rua depois das nove da noite?”
Foi assim que começou o meu diálogo, foi desta forma que o Senhor arranjara um modo para salvar a mim e quem sabe aquele homem.
“Eu... eu estou voltando da igreja!” Essa frase custou muito para sair num misto de pavor e vacilo. O homem olhou para mim através do retrovisor, o sorriso que ele estampou no rosto em nada me tranqüilizou descobriria por que logo.
“Igreja.” Uma risada sarcástica e porque não demoníaca envolveu o veículo, “então você é crente é menina”? Outra risada. “Vamos descobrir se teu Deus vai te salvar, porque você viu minha cara, como posso te deixar ir, sem dizer que você é bem bonita sabe quanto tempo não fico perto de uma mulher?”
Responder? “Senhor coloque nos meus lábios as palavras certas” Essa foi a minha oração.
Eu tinha certeza de algo, que fazia um bom tempo que estava naquele carro e com certeza aquela vegetação fechada e ruas tão desertas indicava que eu estava na Serra. Porém havia outra certeza, sim o “Meu Deus salvará minha vida!” “Sim. Eu creio em ti Senhor e nas tuas palavras. Abra a boca e fale, fale a este homem do amor de Jesus e como Ele pode mudar sua vida!” O carro havia parado num beco, era o confronto final, respirei fundo, o homem me mandou sentar ao seu lado, os olhos dele continuavam desesperados, foi aí que minha boca enfim se abriu.
Ele estava ali ao meu lado, tinha tirado algumas peças de roupa, manipulava o revolver de uma mão para outra como se estivesse se divertindo com aquilo. Certa altura ele puxou meu rosto para perto de si, aquele hálito quente me embrulhou o estômago; ele tentava me beijar, eu o repudiava e clamava pela misericórdia do meu Deus.
Percebi que ele estava ficando nervoso com o jogo de gato e rato, apertando meu braço ele sussurrou:
-Você fará tudo que eu mandar!
Pedia em silêncio que Deus me livrasse daquele homem, daquela situação, tudo que queria era voltar para casa e continuar minha vida.
Uma voz doce trouxe-me a lembrança de um louvor e uma paz invadiu-me e tive certeza da vitoria.
Foi nesse momento que tomei coragem olhei dentro dos olhos do meu algoz e comecei a falar do amor de Deus e suas muitas misericórdias, que Ele era capaz de transformar aquela vida que para muitos parecia perdida, mas para o Senhor tudo é possível o amor Dele é maior e incompreensível a nós, mas independente dos erros e das escolhas Ele nos ama! Perdi a noção do tempo em que permanecemos naquele beco. Finalizei afirmando que ele não poderia ser capaz de destruir tudo o que Deus havia sonhado e preparado para mim.
Ele respirou profundo e começou a se vestir.
- Garota você é muito corajosa pra me falar tudo isso, foi a tua fé que te salvou. Vou te soltar, peguei a pessoa errada, não irei tocar num fio de cabelo seu, sinto que você é protegida por esse Deus que você tanto ama! Mas eu não posso sair daqui sem nada certo? Para alguma coisa você tem que servir! Preciso de dinheiro, uns cinqüenta reais, senão vou ser obrigado a te matar e te largar em qualquer matagal!
Eu estava quase desfalecendo, pensava em minha família.
A bolsa, a bolsa que estava no banco de trás. Naquele domingo eu havia recolhido o dinheiro do grupo de teatro da igreja, quanto havia de dinheiro? Eu não sabia, não tive tempo para contar em meu intimo eu orava, milagres não se explicam se vivem.
Ele começou a contar o dinheiro; vinte e cinco, trinta seis... Meu Deus é se não tiver a quantia que ele quer? Será que ele irá me matar?
Quarenta e oito, quarenta e nove, cinqüenta, cinqüenta e um.
Cinqüenta e um reais! Eu estava salva, eu estava livre!
Por fim ele colocou o dinheiro no bolso, escancarou a porta do carro e me mandou sair.
_ Cai fora daqui, vai! E não olha pra trás!
Sai tremula e ofegante, me distanciei o máximo, só ouvi o ruído do carro saindo, acelerando, rumo eu não sei; o que eu sabia e que estava viva e sem nenhum ferimento. O bandido não tocou em mim!
Sentei-me na calçada, lagrimas banhavam meu rosto logo a frente viu um orelhão, era hora de pedir ajuda as pessoas.
Olhei para o céu, a lua ainda estava lá como testemunha.
Eu sou a menina dos olhos de Deus!













 
Fabiana Ferreira Lopes
Enviado por Fabiana Ferreira Lopes em 12/06/2009
Alterado em 09/02/2014
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