Fabiana Ferreira Lopes

" A vida só se da para quem se deu" Vinicius de Moraes

Meu Diário
26/12/2009 18h52
O Quarto Escuro
O Quarto Escuro
 
Porque somente comigo as coisas tendem a serem tão complicadas?
Conheço centenas de pessoas, não que ela não tenha seus problemas.
Quem não os tem?              
Mas comigo a coisa sempre me pareceu um pouca além da conta, mais pesado, moroso.
Como se todo o peso do mundo estivesse sobre meu corpo.
E eu me sinto extremamente cansada e fustigada.
Quero desistir de tudo.
Simplesmente parar.
Ficar quieta num canto inerte.
Dizem que não fazer nada também é uma escolha.
Eu queria poder escolher nesse momento não fazer nada, mas, não posso.
A vida, as situações e as pessoas me obrigam a agir e eu vou indo de qualquer
jeito ainda que não seja o melhor jeito.
E na verdade eu não queria fazer nada nesse momento.
Queria poder entrar no quarto escuro e lá ficar por tempo indeterminado
Eu e meus demônios, quem sabe assim o combate seria mais justo?
O quarto escuro é aquele lugar que você acredita que nunca vai entrar, mas de algum modo, um dia na sua vida você está nele.
E pode se preparar porque ele além de escuro, é frio e vai fazer você reviver todos os seus piores momentos, como se não fosse suficiente esse momento que te jogou de vez para o quarto escuro.
E lá o combate vai ser feio mesmo, não espere piedade nem misericórdia, essas são duas palavras que não existem no quarto.
O tempo que você irá ficar lá, bem depende do tamanho da sua culpa, dos seus demônios interiores, do tanto que você se sabotou, mutilou e absorveu todo tipo de lixo que não era seu.
A minha permanência no quarto escuro foi longa, durou anos demais, foi difícil, foi doloroso e posso dizer que quase morri por dentro e literalmente, mas é quando você chega nesse ponto da morte interna que a vida grita mais alto e algo que você até aquele exato instante não sabe o que é te faz reagir.
Mas luta é dura, árdua o inimigo te conhece como ninguém, nos mínimos detalhes, nos mais íntimos dos pensamentos, o inimigo é você mesmo.
E como lutar contra você mesmo?
Pergunta que levam centenas de pessoas as salas dos psicólogos, analistas, psiquiatras e todo tipo de pessoa que possa te responder o que só você pode responder, mas por algum motivo você acha sempre que a resposta para todo esse inferno pessoal está-nos outros e quase sempre você também acredita que a culpa do suplicio sem fim é dos outros, ledo engano. A culpa é sempre nossa, mas demoramos certo tempo ou muito para descobrir isso e é justamente isso que os colegas descritos acima irão fazer tentar te mostrar a direção pra sair do quarto escuro, mas a solução e sempre nossa.
Eu passei por duas tentativas de suicídio, uma internação, uma coleção imensa de tarjas pretas no meu armário, fora as fugas que você acredita não ser fuga.
Você se esconde atrás de outro personagem, você nem ao menos percebe quando ele surgiu quando vê você não é mais você, você é o personagem. Eu acredito que seja uma espécie de proteção, uma armadura que nosso subconsciente produza para proteger nosso verdadeiro eu, o problema não é tentar se proteger criando outro eu, mas se perder nesse enredo e um dia olhar para o espelho e não saber mais quem é você.
Foi isso que aconteceu comigo.
A pressão que criei em torno de mim me levou a criar essa outra que a principio era para me proteger das dores, decepções, dos nãos que nunca sabemos receber e digerir. Ela foi se apossando de mim, tomando forma, criando raízes e gostos próprios.
Era eu sem ser eu. Parece difícil de entender, mas a outra passou a ter mais domínio sobre tudo em minha vida, desde pequenas decisões a grandes e importantes decisões para o meu eu verdadeiro.
Simplesmente eu era um fantoche comandado por uma criatura que eu mesma havia criado para tentar poupar-me do que eu acreditava não poder suportar ou lidar. Só que essa personagem me trancafiou num calabouço por longos anos.
Enquanto eu estava lá ela dirigia minha vida, nem preciso descrever a conseqüência disso, foi desastrosa para todos os sentidos da minha vida, a reação foi lento, o meu domínio próprio não foi nada fácil.
Acreditei por varias vezes que não conseguiria e que realmente iria enlouquecer de vez.
Foram muitas noites sem dormir, nem mesmo os psicotrópicos estavam me auxiliando nisso.
Eu estava mutilada, em cacos, e não sabia por onde começar a me remendar.
Só que a vida não parou porque eu pirei comigo mesma, eu tinha trabalho, família, amigos, namorado e fazer todo esse povo entender que você está doente da alma, por dentro e que sua mente simplesmente não é uma caixinha de entulho que você pode ir socando as coisas sem se importar com o conteúdo não é das tarefas mais fáceis.
O bom é que nessa hora que você descobre quem são as pessoas que realmente se importam com você, e não se assuste ou se ache a última das bolachas do pacote se acaso perceber que tais pessoas são pouquíssimas.
Cabe quase em uma das mãos.
No começo dói muito esse descobrimento que você não é tão especial assim, mas com o tempo e depois que você conseguir sair do quarto escuro você verá que quem realmente ficou do seu lado é porque merecia estar do seu lado e você também merecia essas pessoas do seu lado.
O primeiro passo é admitir que você esteja no quarto escuro, que já ficou tempo demais lá dentro é quer sair.
Afinal a vida está lá fora gritando para que você reaja, chamando você para as coisas que são realmente essenciais e importantes.
Aproveite o período no quarto para reciclar sua mente, sua alma, seus valores, porque se você entrou ai dentro com certeza é porque algo com esses três estavam muito, mas muito errado mesmo.
Damos muita importância primeiramente para a opinião alheia, esquecemos que o que é bom para cicrano pode não se bom para nós.
Preocupamos-nos demais com as aparências externas e nos esquecemos de avaliar a essência, o interior, o cara era o mais lindo da balada, mas não passava de um cretino que nunca te respeitou.
Sua suposta melhor amiga no fundo sempre te colocou pra baixo, e invejou todos os seus momentos de glorias fazendo você acreditar que eles não eram tão importantes assim.
A família sempre preferiu dar suma importância para todos os seus pontos fracos, ou o que eles acreditavam ser um defeito ao invés de valorizar todas as vezes que você foi bacana, generosa.
Bem a lista é imensa, os motivos são diversos, alguns são tão íntimos, mas tão íntimos que nem conseguimos descrevê-los, mas aconteceu apesar de todo esforço, de você se levantar as seis da matina, encarar o metrô, trem e ônibus lotado, lidar com seu chefe que nunca reconhece seu real valor dentro daquela empresa e ainda arranjar fôlego e disposição para encarar a aula de estatística na faculdade.
 
Isso se chama vida. E viver nem sempre é fácil.
Exige uma boa dose de bom senso, discernimento e respeito para consigo mesmo. Porém ninguém nos ensina na escola e nem em casa como lidar com as frustrações da vida.
Somos preparados para sermos o melhor nisso, naquilo e ver todos os nossos caprichos sendo realizados, só que o mundo aí fora não é a casa do papai e da mamãe que esperneamos e no final ainda que contra gosto, conseguimos o que queremos.
Fomos “condicionados” ao sim, mas acredite ouviremos muitos nãos, e isso não mata, mas para muitos é pior que é a morte. E um não bem dado, pode despertar em nós algo que nem nós mesmos sabíamos que existia.
É uma hipocrisia descarada acreditar que somos só dotados de sentimentos belos, somos dúbios por essência, assim como existe dia e noite, temos dentro de nós o bem e o mal.
A escolha de quem vai direcionar nossa vida, atitudes é nossa.
Não culpe a mãe, o pai, o ex-namorado da adolescência se você se olhar no espelho e descobri que é uma víbora.
O bom é que se realmente quisermos podemos mudar.
Mudamos sim, isso é inerente do ser humano, mas não creia em milagres ou ache que vai mudar por causa de algo exterior não importa o que seja ou quem seja, mudamos por que queremos. Porque acreditamos que do jeito que está não da mais.
Procure não olhar para trás o que foi, foi. E ponto final, se prenda no adiante, melhore o presente para garantir um futuro mais proveitoso para si mesmo. Não esqueça envelhecemos, como você deseja envelhecer? Sozinho preso a escombros e a velhos tabus e fantasmas ou rodeado de momentos memoráveis, suaves e leves?
Desanimo e vontade de desistir quando se andou meia légua serão constantes, momentos de vitimismo também. Compre um espelho bem grande e quando perceber que vai começar a retroceder se mire bem, se encare, as respostas estão dentro de nós mesmos.
O problema é que teimamos em achar que elas vêm de fora ou somos muito pirracentos para dar o braço a torcer e admitir que aquela voz que surgiu como um sussurro era o alerta vermelho dizendo pare.
Pare quantas vezes for necessárias, reavaliar o caminho, as opções que determinou, seja mais flexível consigo mesmo, afinal basta o mundo para ser seu algoz você não precisa ser carrasco de si mesmo.
Erramos muito, mas sempre no intuito de acertar.
Lembre-se nem sempre o que é bom para os demais é bom para nós.
Aprenda a dizer não.
Abaixo o volume do rádio externo e comece a dar mais ouvido ao rádio interior. Não existe receita para felicidade, todos os grandes poetas afirmam que ela é efêmera, quase tênue então aproveite os momentos de felicidade com intensidade e comece a se desprender dos de tristeza.
Luta, dissabores, perca são coisas que passaremos em grande parte das nossas vidas, entretanto o que faz a diferença e saber como você irá lidar com essas coisas comuns da vida comum.
Nós temos algo gravado em nosso subconsciente que é a luta pela superação. Ainda que cheguemos ao fim do poço e não haja como descer mais, pode ter certeza que no seu intimo algo irá se revoltar para que reaja então pare de olhar o joelho esfolado e reaja! Alguns vão dizer que é instinto de sobrevivência, o que importa a nomenclatura?
O que realmente importa é sair do quarto escuro encarar que se jogou lá por inúmeros motivos, mas que no final aprendemos à lição, sobrevivemos, estamos melhores, mais sábios e prontos para recomeçar.
Recomeçar com mais confiança não no outro ainda que o outro seja importante, mas confiante em nós mesmos.
Nada pode deter aquele que tem em mente três palavras: quero, posso, consigo.
Se quero eu posso, se eu posso eu consigo.
E não é necessário usar os demais como trampolim, capacho para atingir a meta.
Nunca esqueça a vida é ação e reação, ninguém está imune de colher aquilo que plantou. Pode demora anos a colheita, mas ela é obrigatória.
Então cuide bem do seu jardim, semei flores e não colherá tempestade.
O quarto escuro foi à oportunidade que a vida nos deu de repensarmos nossa própria vida.
O que estamos fazendo com ela?
O que estamos fazendo com quem está ao nosso redor e o principal o que andamos fazendo com nós mesmos?
Podemos exigir amor se não nos amamos?
Estamos aqui somente para sofre?
 Pagar contas, obter títulos, viver de migalhas, ter inveja dos que puderam ir além?
Não, estamos fadados à felicidade esse é o nosso destino.
Mas o que acreditamos ser felicidade?
Citei que ela é efêmera quase tênue, então não perca tanto tempo pensando em ajuntar tantos bens duráveis que verdadeiramente nem são tão duráveis assim, durável mesmo somente o espírito que é imortal, porque nunca sabemos a hora de chegada nem de partida.
Precisamos aprende a dar mais valor às pequenas coisas.
Ao por do sol, ao um sorriso sincero, uma frase de cortesia. A aqueles que nos amam de coração.
Passar mais tempo com quem vale a pena e menos enfornados em escritórios pensando como dobrar a conta bancaria, porque se morre e fica tudo aí.
O tempo passa célere demais e quando nos damos conta o que realmente era significante, de valor imensurável se perdeu.
Pare de olhar para o, próprio umbigo, deixe de ser tão egoísta e arrogante.
Quem disse que você precisa salvar o mundo e não dormir porque do outro lado do mundo outra guerra estourou?
Com certeza ao seu lado existem situações possíveis de ser solucionadas e há tantas pessoas que precisam do seu auxilio.
Aos poucos percebemos que viver não é um parque de diversões e que não estamos aqui por acaso e que saber o acaso não existe, me perdoe os céticos e racionais, mas estamos todos co-relacionados.
Porém antes de quere ser um herói cuide de você.
Com toda atenção, carinho e respeito devido, pois no final será você com você e esse confronto para alguns é tortuoso. Olhar para trás e ver que levou uma vida inteira de egoísmo e mesquinhez para consigo mesmo e isso acabou resultando em machucar outras pessoas que estavam ligadas a nós.
Não falo simplesmente do circulo familiar embora ele seja o mais importante, mas nossas relações interpessoais vão muito além do laço sanguíneo.
Então agora é pergunta crucial seja como, como nos colocamos no quarto escuro?
Como sairemos de lá e o que verdadeiramente aprendemos com isso?
O processe às vezes parece lento, mas se eu consegui você pode também sair ou nem entrar nesse quarto, então arraigasse as mangas e vamos ao trabalho!
 
 
 
 
 
 
 
 
 
               CONTINUA...                                            

Publicado por Fabiana Ferreira Lopes em 26/12/2009 às 18h52
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